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Todos nós temos asas. E embora
algumas pessoas não as usem, todas podem voar. Uns voando mais baixo, outros
voando sempre alto, e ainda alguns, que não se importam com altitudes, apenas
voam, apenas vão.
Tem gente que nasce mesmo com esse
sentimento de desprender-se do mundo, das coisas e das pessoas. Isso não
significa não amar, não sentir saudade, não se importar, mas é a vida que chama
para voar. Voar em razão do seu coração. Na verdade, acho que todos nós somos assim, mas alguns não cabem em
si. Sua ordem é seguir sempre, sempre em expansão. Encantam-se pelo movimento.
Envolvem-se pela inquietação.
As pessoas que voam sempre deixam
um pedaço de si por onde passam e levam um pouco de tudo para onde vão. E é
isso que as fazem completas: os voos do caminho e as experiências em cada
pouso. Se você conhece alguém que gosta de voar, deixe-a ir. Como dizia
Leonardo da Vinci: "Uma vez que você tenha experimentado voar, você andará pela terra com seus olhos voltados para o céu. Pois lá você esteve e para lá você deseja voltar.".
Acontece também que às vezes não é
uma questão de querer ir, mas de ter que voar, ou, de simplesmente não poder
ficar. Porque voar é uma libertação. Mas não é fácil, nem para quem vai, nem
para quem fica. Porque tem vezes que quem vai, tem vontade de ficar, já quem
fica, sente uma imensa vontade de ir.
Mas devo dizer que nesse ir e vir
constante da vida há quem prefira as raízes. E não sei o que é mais fácil ou
mais difícil, se é ser do tipo que vai ou do tipo que fica. Ainda tem os que
vão, desde que a condição seja voltar. Mas é possível ter raízes e asas ao
mesmo tempo? Não. Ou se joga a âncora, ou se sai a navegar! Os desbravadores gostam de
arriscar, por isso voam, por isso estão sempre içando as velas. Esse estado é
atiçado em seus corações como um combustível para suas vidas.
É engraçado perceber como tem gente
que não se importa de ficar a vida inteira no mesmo lugar e do mesmo jeito. E
pensar que tem gente que não consegue ficar num mesmo lugar por algumas horas apenas
e estão sempre mudando. Alguns conseguem reverter isso ao longo da vida, mas
acho difícil negar as origens, aquilo que já nasce com a gente: as asas que já
abrem quando sonhamos, ou as raízes que já se instalam quando realizamos.
Eu vou confessar uma coisa para
vocês: tenho asas, mas também tenho raízes. Acho que as minhas raízes, são na
verdade as minhas asas, estas, as únicas coisas que me prendem. Porque às vezes
sou do tipo que voa e não do que fica, mas às vezes não sou do tipo que vai,
mas sim do que finca.