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Cada vez mais as pessoas são pela
metade. Pensam pela metade. Sorriem pela metade. Amam pela metade. Vivem pela
metade. E a única coisa inteira nisso tudo é a falta de entrega!
Sinto falta de pessoas que se
jogam, sem se preocupar com a maré; de pessoas que mergulham, sem se preocupar
com a profundidade. Mas é justamente isso que ninguém quer hoje em dia: remar
contra ventos fortes e sair da superfície. Só eu tenho incapacidade da vida
prática e gosta do que tira o fôlego? Eu espero que não! Está tudo assim meio
fora do lugar, tudo parece tão impessoal.
Há uma falta de entrega em tudo,
ninguém quer se comprometer. Com nada. Com ninguém. E isso parece uma epidemia,
que cada vez mais contamina as pessoas. Porque ninguém quer ser profundo, dá
muito trabalho. Ser superficial é mais fácil, ser pela metade não tem tanto
desgaste, sabe?!
E eu vejo essa falta de entrega por
todos os lados: nos relacionamentos, ambientes de trabalho, na sociedade, em
tudo. Parece um medo de se envolver e querer agir apenas como expectador. Há
sempre um resquício da dúvida. E isso é meio assustador porque quando a pessoa
não está entregue é uma meia pessoa que produz meias verdades, meios carinhos,
meios amores, quando deveria ser tudo inteiro e de verdade.
A sensação que eu tenho é que
existe uma espécie de blindagem em todo mundo hoje em dia, uma barreira
invisível e resistente que não te deixa alcançar a verdadeira pessoa que está
por trás dessa fortaleza de meios sentimentos e meias emoções. As pessoas não
estão dispostas à cumplicidade. E é como se elas não sentissem necessidade
disso. A bolha em que elas estão, basta. Talvez por isso tudo pareça ser tão
fugaz e inalcançável. É como se interpretassem um papel que não as pertence.
Acho até que as pessoas vivem em uma
espécie de poda de si mesmas: querem ser, mas acham que não podem; querem ir,
mas acham que não devem. É uma falta de entrega até em querer se entregar. Ah,
devo confessar que pessoas pela metade me cansam, não suporto meio termos. Não
gosto de voar de pés no chão. Não faço a linha mais ou menos.
Aí
nessas horas sempre aparecem àquelas teorias (que pra mim são feitas por
pessoas pela metade) que dizem que temos que ficar na defensiva para nos proteger.
Uma metade vive e a outra não se compromete e se mantém intacta. Mas de que
adianta viver pela metade se temos o mundo inteiro?
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