foto divulgação |
Não, não é sobre política. É sobre caráter. E qualquer
semelhança, nesse caso, não é mera coincidência. Mas sim, mera consequência. O
assunto nunca esteve tão em alta, mas lamento informar: não é de hoje. Venha,
sente aqui e vamos conversar sobre corrupção.
Muito se engana quem pensa que corrupção se restringe à
política. Na verdade isso não passa de uma extensão da prática já feita há
muito tempo e sendo “normal” do que você possa imaginar. A corrupção é uma
velha conhecida de todos nós brasileiros. Porque sim, somos todos corruptos!
Ah, não fique chocado. Está na hora de encarar a realidade. Está na hora de parar de falar desse assunto em terceira pessoa. Está na hora de reconhecer a nossa
parcela de culpa nesse “jeitinho” todo nosso!
Todos nós em algum momento (ou com certa frequência) já corrompemos,
subornamos, adulteramos, burlamos as regras, e o que é pior: com a maior
naturalidade do mundo, quer dizer, do Brasil. A corrupção nos abre um leque de
incidência que via de regra nós não identificamos no nosso dia a dia, por não “incomodar”,
por não parecer tão grave assim e pelo absurdo de já estarmos acostumados com
tudo isso.
E é justamente aí que mora o problema (ou a solução?): o fato
de essas pequenas atitudes levianas terem um caráter de insignificância. Mas
isso não anula o fato de ser corrupção. E infelizmente é assim que começa. Nossas
pequenas atitudes diárias de corrupção contribuem e patrocinam algo muito
maior.
Há quem diga que subornar um guarda de trânsito é bem
diferente de assaltar os cofres públicos. Pode ser diferente na gravidade, mas
parte da mesma motivação de desvio de conduta. Sejam pequenas, médias ou
grandes, ações corruptas são ações corruptas. Pequenas atitudes de corrupção
sempre realimentam mais atitudes de corrupção. E é aí que temos que parar e refletir,
antes mesmo de cobrar honestidade.
O caminho longo que temos a seguir de combate à corrupção
começa com a percepção desse mal pela sua raiz, mas tá difícil, viu?! Uma
pesquisa feita pelo Instituto Vox Populi, em 2012, apontou que um em cada
quatro brasileiros (25%) não vê o suborno de um guarda como corrupção, enquanto
35% dos entrevistados não veem como corrupção atitudes como a sonegação de
impostos. É o que eu disse: o absurdo de estarmos acostumados, de ser normal.
Mas por favor, quando vamos entender que não é?!
Vamos fazer a mea culpa
sim. É completamente absurdo pensar que alguém seja canalha ou corrupto o tempo
todo, mas em alguns momentos de escolhas já agimos assim. Em alguma situação
ficamos alheios ao bem comum e quisemos tirar vantagem. Nós deliberamos nossa própria
trajetória, projetamos situações desejadas, decidimos sobre caminhos e
descartamos outros, sempre intervindo e transformando o mundo a nossa volta,
por isso devemos pensar nas nossas pequenas atitudes diárias, nessas corrupçõezinhas
que podem garantir nosso conforto pessoal e atrapalhar a convivência com as
outras pessoas.
Bom, se quisermos mesmo, de verdade, avançar nesse assunto precisamos
reconhecer que aceitar pequenas corrupções é aceitar qualquer corrupção. Agora,
se me dão licença, preciso fazer uso de Martin Luther King quando ele dizia: “O
que me preocupa não é nem o grito dos corruptos, dos violentos, dos desonestos,
dos sem caráter, dos sem ética. O que me preocupa é o silêncio dos bons.”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário